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Descobrindo a apometria

Publicado em 15 de julho de 2020 por Leonardo Möller

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Há paralelos curiosos entre os lances que precederam o aparecimento da filosofia espírita e os que motivaram o surgimento da apometria, cerca de cem anos depois. Entre eles, a intrepidez de dois homens, que descortinaram, em um enredo iniciado na França oitocentista, um leque de possibilidades acerca do mundo espiritual. Algumas delas demonstram o quanto a técnica apométrica pode favorecer e aprimorar a prática mediúnica.

Há paralelos curiosos entre os lances que precederam o aparecimento da filosofia espírita e os que motivaram o surgimento da apometria, cerca de cem anos depois. Entre eles, a intrepidez de dois homens, que descortinaram, em um enredo iniciado na França oitocentista, um leque de possibilidades acerca do mundo espiritual. Algumas delas demonstram o quanto a técnica apométrica pode favorecer e aprimorar a prática mediúnica. 

Aproximadamente um ano antes de iniciar as pesquisas que dariam origem ao espiritismo, o professor Rivail (1804–1869) ouviu notícias sobre as chamadas mesas girantes. Sensação em certas festas parisienses, o fenômeno consistia em peças de mobiliário que descreviam movimentos à vista de todos, de forma aparentemente inexplicável ou, quem sabe, sobrenatural. Meses mais tarde, o magnetizador Fortier, amigo que lhe falara a respeito, acrescentou: as mesas também se comunicam, com base em códigos preestabelecidos, e respondem indagações inteligentes. Aquele que logo adotaria o pseudônimo de Allan Kardec encarou com ceticismo a última revelação, até que, em maio de 1855, presenciou aqueles fatos pela primeira vez. Passou então a frequentar, em caráter regular, reuniões onde fatos do gênero se produziam.1 Em agosto do mesmo ano, no auge do verão na capital francesa, deu início aos estudos que o levariam a compor a pedra fundamental da filosofia nascente, O livro dos espíritos, o qual seria publicado pouco mais de um ano e meio depois, em abril de 1857.

No decurso das investigações que permitiram ao médico gaúcho José Lacerda de Azevedo (1919–1997) desenvolver e aprimorar a apometria, jamais esteve entre seus objetivos erigir uma doutrina ou uma filosofia, ao contrário do que Kardec rapidamente pôde deduzir que lhe caberia, à medida que avançou no contato com os fenômenos. Entretanto, a história de como o espírita brasileiro despertou para as experiências que o fizeram vislumbrar a formulação da técnica apométrica guarda semelhanças e coincidências interessantes com as circunstâncias que cercaram o professor francês, à sua época.  

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DE PARIS A PORTO ALEGRE

Decorrido aproximadamente um século das pesquisas kardequianas, seu discípulo Lacerda dedicava-se à prática espírita na capital gaúcha, no sul do Brasil, desde a juventude. No ano de 1965, o médico Conrado Ferrari, então diretor do Hospital Espírita de Porto Alegre (HEPA), insistiu para que o colega assistisse à apresentação de um porto-riquenho chamado Luiz Rodrigues, radicado no Rio de Janeiro, que viria àquela cidade demonstrar uma técnica inovadora denominada hipnometria. Lacerda compareceu com certa reticência. Porém, diante dos fenômenos observados no tocante ao desdobramento do corpo astral, imediatamente vislumbrou aplicações que passaram despercebidas ao criador da hipnometria — quem sabe, ao menos em parte, devido a seu desconhecimento da ciência espírita.

Na mesma noite da conferência marcante, tão logo chegou em casa, o médico gaúcho resolveu testar o que vira, ministrando o procedimento aprendido em sua esposa. Yolanda respondeu no ato aos impulsos da hipnometria, e ingressou na dimensão astral. Médium experimentada que era, começou a descrever a realidade extrafísica em torno de ambos imediatamente, e com grande precisão. Com efeito, logo constataram, fora desdobrada com facilidade e rapidez. E se o resultado daquela noite pudesse ser replicado com ainda maior agilidade e proveito?2    O sonambulismo magnético de Allan Kardec, posteriormente chamado também de projeção da consciência, encontrara na hipnometria um veículo veloz e insuspeito. O livro dos espíritos já informava quanto às vantagens de se operar com sensitivos em desdobramento.3    A vidência extrafísica de Yolanda ainda revelou, naquela noite, a presença dos orientadores espirituais com os quais o casal tinha familiaridade. A partir de então, a curiosidade ganhou fôlego e tiveram início tanto as indagações como a certeza de que eles estavam perante uma descoberta invulgar — entre outras razões, porque espíritos sérios não se prestam a visitas domésticas sem propósito claro. Aquela cadeia de eventos não era fortuita, perceberia o casal Azevedo não muito mais tarde. Lacerda soube que aquele recurso era a chave que descerrava um mundo de possibilidades à prática espírita. 

DE PORTO ALEGRE A BUENOS AIRES

Muitos anos se transcorreram desde aquela noite até 1987, quando da publicação da primeira edição de Espírito/matéria: novos horizontes para a medicina, livro que apresenta os fundamentos da apometria, enuncia seus princípios e as leis que a regem, e traz estudos de caso ilustrativos.4    Um dos exemplos mais emblemáticos que a técnica permitiu desvendar é a história de uma obsessão deveras inusitada, tanto porque o alvo definhava — e há indícios de que estivesse mesmo à beira da esquizofrenia quando procurou socorro de Lacerda — quanto porque o agente do processo era outro encarnado, que sequer prejudicava deliberadamente a vítima. O atendimento se passou em Porto Alegre, porém, foi à distância, o que por si só denota uma das vantagens oferecidas pela apometria.

O consulente, do sexo masculino, tinha 30 anos e residia na capital argentina, conforme narra Lacerda. Após se casar, acometia-lhe periodicamente um quadro neurológico similar ao de crises epiléticas, porém mais tênues. Tonteira, prostração, dor de cabeça, vômito, entre outros sintomas, acompanhavam os surtos trimestrais, que no entanto já haviam sido menos espaçados ao longo dos três anos de padecimento. Uma vez desdobrados os médiuns, que em seguida foram conduzidos por meio da técnica apométrica até a residência do consulente, depararam com um homem abatido e acamado. Observaram que algo semelhante a escamas envolviam todo o seu corpo, notadamente na região da cabeça. Mediante o relato das percepções e a consequente operação de comandos apométricos, os médiuns puderam remover, cuidadosamente, as camadas de fluidos densos de aspecto escamoso. Contudo, quando procuraram rastrear a origem daqueles apetrechos, não puderam identificar espírito desencarnado algum, mas sim uma jovem a cerca de 10km dali, onde morava com o filho de 4 anos de idade. As emissões magnéticas geradas por ela revelaram um caso amoroso vivido com o consulente, anos antes, do qual a criança era fruto. Antes mesmo do seu nascimento, entretanto, ele a abandonara para casar-se com outra. Frustrada, ela irradiava constantemente pensamentos de saudade e desapontamento, os quais atingiam o homem em cheio, ainda que não desejasse prejudicá-lo. O espanto dos médiuns quanto ao efeito aterrador daquelas emanações foi saciado pela equipe espiritual, que logo pôde esclarecer quanto à história da artífice do processo. No passado remoto, ela fora iniciada em magia e, como sacerdotisa, conquistou amplos poderes mentais.5 

 

A apometria é uma técnica ou um conjunto de técnicas cuja aplicação permite, sobretudo e em linhas gerais, dinamizar reuniões mediúnicas de objetivos variados. 

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DE PORTO ALEGRE A BRASÍLIA E, ENTÃO, A BELO HORIZONTE

O caso acima pode ser lido no livro mencionado de Vitor Ronaldo Costa (1943–2015). Médico da Aeronáutica, ele morou na região metropolitana de Porto Alegre a partir de 1973, período durante o qual pôde acompanhar o trabalho que Lacerda levava a efeito na Casa do Jardim, que então designava a Divisão de Pesquisas Psíquicas do HEPA.

Bem mais tarde, já radicado na capital federal, Vitor foi o responsável, no plano físico, pelo pontapé inicial na adoção sistemática da técnica apométrica na Casa de Everilda Batista, onde atuo. Desde o ano 2000, quando visitou a casa espírita fundada por Robson Pinheiro para um workshop, lá se vão cerca de 20 anos, ao longo dos quais permaneço à frente de reuniões em que empregamos essa ferramenta tão valiosa, a apometria. Foram inúmeros os casos atendidos, passando pela gama de patologias descritas por Lacerda, desde a síndrome de aparelhos parasitas até a ressonância vibratória com o passado, apenas para ficar entre as mais conhecidas.

No minicurso gratuito Iniciação à apometria, Robson e eu partilhamos um pouco da experiência acumulada nos atendimentos e na operação da apometria, no âmbito tanto da prática mediúnica quanto de consultório terapêutico, no caso dele, onde explora certas aplicações da apometria como técnica de magnetismo. Esperamos, ele e eu, que lhe seja proveitoso o conteúdo. 

Bons estudos!

Leonardo Möller, operador e coordenador em reuniões de apometria há cerca de 20 anos

 


[1] Cf. “A minha iniciação no espiritismo”. In: KARDEC, Allan. Obras póstumas. Organização de P. G. Leymarie. Rio de Janeiro: FEB, 2009. p. 345-353 (2ª. parte).
[2] Cf. COSTA, Vitor Ronaldo. Apometria: novos horizontes da medicina espiritual. Matão: O Clarim, 1997. p. 20-22.
[3] Cf. “Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da segunda vista”. In: KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 2ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011. p. 316-322, item 455.
[4] Cf. AZEVEDO, José Lacerda. Espírito/matéria: novos horizontes para a medicina. 9ª. ed. Porto Alegre: Casa do Jardim, 2007.
[5] Cf. COSTA. Op. cit. p. 143-148.

Leia também:

Apometria: o que é e para que serve?

Trabalhar fora do corpo com os guardiõespor Pai João de Aruanda

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